sexta-feira, 23 de maio de 2014

Morro do Bumba e enchentes de Niterói


Bom dia Boechat, bom dia Maíra, bom dia Jonathan. O que fim levou de hoje é sobre as enchentes de Niterói, principalmente sobre o Morro do Bumba, a comunidade mais atingida pelas chuvas que caíram entre 4 e 5 de abril de 2010 e provocaram o trágico deslizamento das encostas do Morro do Bumba. O resultado foram 171 pessoas mortas e cerca de 7 mil famílias desabrigadas. Infelizmente, o Que fim levou tem a dizer para vocês que o que foi tragédia para alguns naquela época, durante uma semana, com corpos aparecendo a cada minuto e depois a cada dia, pessoas que tinham visto suas casas ruírem, procurando seus familiares , desesperadas, ainda é tragédia, mais de quatro anos depois, tragédia diária, para muitos, mas muitos mesmo.
Eu me preocupei, primeiro, em saber parar onde foi tanta gente. Sete mil famílias? É muita gente mesmo. Para onde eles foram, onde eles estão agora? Fui procurar com a ajuda dos meus estagiários, que na verdade já são maravilhosos repórteres farejadores, adeptos do jornalismo investigativo, uma espécie de jornalismo dos velhos tempos em que quase não se investe mais, a Renata Nolasco e o Alexandre Lima, alunos da Unisuam. Eles encontraram a Dona Monica Marques, que foi desalojada do Moro do Bumba, perdeu a casa dela, a casa dela foi interditada, depois demolida. Ela ficou sem nada. Sem ter onde morar. Passou um tempo abrigada em uma escola e depois ganhou um aluguel social. O que é isso? Um valor que o Estado doa ao desabrigado, valor repassado à prefeitura pelo Governo do Estado. E qual é este valor??? R$ 400 . Falai sério!!!! O metro quadrado imobiliário em Niterói é o quarto mais caro do Brasil. Só perde para São Paulo, Rio e Brasília. Então por favor me diz onde a Dona Maria ia morar com R$ 400? e ainda, vamos lá, sem fiador, como seria provável, e mais pagar a luz, a mudança, a compra de móveis, falai sério? Loquimini serius....

Depois nós vamos voltar ao que a Dona Maria e muitos outros desabrigados passaram durante esse tempo todo, desde abril de 2010, quatro anos já se passaram! Mas vamos para os dias de hoje . Afinal estamos no Que fim levou. A Dona Maria hoje mora no condomínio Viçoso Jardim, construído em frente ao Morro do Bumba em um apartamento bem pequeno, de quarto e sala. Em que a cozinha é, como ela disse para a Renata Nolasco que foi lá com o Alexandre Lima conversar com ela, a cozinha é dentro da sala. Está bacana lá? Não. Não, está bacana lá.

O apartamento foi entregue sem piso, sem janelas e agora está... rachando! As paredes estão rachando, porque está cheio de infiltrações e por que, ao que tudo indica as bases do terreno não foram preparadas adequadamente. Agora para vocês anotarem e refletirem o Condomínio Viçoso Jardin, vai ser viçoso assim no raio, tem com 180 unidades divididas em quatro blocos de quatro andares cada e a obra custou R$ 11.498.947 e é novinho, praticamente, pois foi inaugurado há dois anos. Falai sério. Loquimini serius. Além disso, os moradores reclamam que engenheiros visitaram do CREA visitaram o local e denunciaram que a encosta vizinha corre risco de desabamento com as chuvas! Parece brincadeira, mas não é.

Mas nós falamos de 7 mil famílias não falamos, que 7 mil famílias ficaram desabrigadas coma as enchentes de 2010 e que só cerca de 200 foram para esse pesadelo com a Dona Maria Marques. E as outras? Ah cerca de 300 famílias foram para outro condomínio, o Zilda Arns, também em Niterói. E o que acontevceu? Os prédios para onde elas iam também o que? Também o que? Racharam! E tiveram que ser demolidos. Cada um custou R$ 2 milhões. E olha que eram prédios do programa Minha Casa Minha Vida, com a chancela de um programa do Governo Federal. Todo mundo na rua de novo, com o que? Aluguel social de R$ 400. Quem conseguir morar em Niterói com esse valor me conta como é que é. Em parte, eu descobri como como é que é e, infelizmente. Uma das maneiras é voltando ao Morro do Bumba, onde lá, na mesma área de risco já estão de volta algumas famílias, no mesmo local onde as casas e as vidas foram engolidas pela lama.

Se tem alguma coisa boa nessa história e tem é que algumas pessoas se importam com todo esse descaso. E tomaram algumas providências. Um grupo de vereadores está pressionando o executivo desde a gestão anterior e tentando uma CPI. Eu conversei com o vereador Henrique Vieira do PSOL e ele questiona a possibilidade fraudes no repasse dos alugueis sociais pois diz que tem gente que não é desabrigada que recebe e vice versa, muito gente que ficou desabrigada e nunca recebeu. Principalmente, ele quer saber sobre o montão de dinheiro público que foi gasto enquanto os desabrigados estavam alojados precariamente quartéis com custos a cargo da Prefeitura de Niterói que recebia verbas federais e estaduais altas. Os abrigos eram desumanos, com infestação de ratos vazamento de esgotos, condições tão ruins a ponto de crianças morrerem. Mesmo assim, só para dar um exemplo, em pouco mais de um ano, em um destes abrigos foram gastos mais de R$ 4 milhões em quentinhas para cerca de 300 pessoas. Então, tudo realmente parece um descalabro neste caso.

O que fim levou procurou também a Justiça, através da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania do Núcleo Niterói. Eles informaram o seguinte:

Existe um inquérito em andamento sobre Viçoso Jardim no GATE (Grupo de Apoio Técnico Especializado) . Sobre o Zilda Arns, a atribuição para a fiscalização das obras é do Ministério Público Federal , já que a obra é da CEF.

Outras ações em andamento são: uma ação civil de improbidade contra os agentes políticos, que permitiram ocupação irregular do Morro do bumba, pois aquela já era uma área declarada de risco, antes de a primeira casa ser construída ali, dentre eles o ex-prefeito de Niterói, Jorge Silveira.

E a atual Prefeitura? Eu procurei a prefeitura e eles me disseram o seguinte: A Prefeitura fez o acordo com o pessoal que estava abarigado no3º Batalhão de Infantaria, no Barreto e ia para o condomínio Zilda Arns de pagar um auxílio, além do aluguel social , de R$ 5 mil, pagos em uma parcela de R$ 800 e sete parcelas de R$ 600 e essa ajuda de custo do município será mantida até a conclusão das obras.

Quanto ao pagamento do aluguel social, o de R$ 400,00 mensais, que é de responsabilidade do Estado, foi feito, em conjunto com a prefeitura, um recadastramento das famílias e somente quem apresentou toda a documentação exigida para ter direito ao benefício foi contemplado.

Sobre o problema lá da encosta junto ao condomínio Viçoso Jardim, informaram que a Defesa Civil enviou laudo ao governo do Estado, responsável pelo condomínio. Mas não me informaram o resultado do laudo.

Me deram dados sobre o plano habitacional Morar Melhor, que pretende contratar 5 mil casas populares a serem destinadas, prioritariamente às vítimas das chuvas e moradores de áreas de risco. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura já estão em construção 1.500 unidades, e outras 780 estão sendo licenciadas.

Quanto à prevenção de enchentes as informações são de que foram realizadas obras de contenção de encostas em 20 pontos de risco e estão começando outras em 25 pontos. Foram criados sistemas de alerta contra chuvas e novos núcleos de Defesa Civil, além de colocados de pluviômetros em 30 comunidades da cidade.



Eu fico por aqui, minha solidariedade a Dona Maria Marques e a todas as vítimas dessa tragédia que se torna maior com a absoluta falta de respeito. Fique comigo durante a semana nas páginas do facebook que fim levou e no nosso blog colunaquefim legou blogspot.com.br, páginas feitas pelo aluno Vinícius Melo. Bom fim de semana para meus queridos companheiros do rádio e para vocês que tem a paciência de me ouvir e a vontade, sempre, de saber que fim levou.

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