sexta-feira, 16 de maio de 2014

Bondinho de Santa Teresa



O que fim levou de hoje é sobre os bondinhos de Santa Tereza. Nos trilhos desde 1896, os bondinhos tinham 115 anos quando pararam de circular pelas ladeiras de um dos bairros mais bonitos do Rio por causa de um trágico acidente que deixou 56 pessoas feridas e acabou matando seis.

O acidente aconteceu em um sábado, dia 27 de agosto de 2011, e o bondinho, que era o bonde 10, o mais antigo, estava lotado, com muitos turistas. É preciso que eu conte o caso como o caso foi, muito direitinho para vocês entenderem o absurdo em que o caso se transformou.

O motorneiro Nelson vinha conduzindo o bonde no sentido do alto de Santa Tereza para o Largo da Carioca quando foi abalroado por um ônibus, no Curvelo. Parou o bonde, deu uma olhada, achou que não tinha acontecido nada demais e tocou o bonde. Quando chegou ao Largo da Carioca encontrou o colega motorneiro Gilmar que pediu uma carona. E recebeu do encarregado Vieira a ordem de levar o bonde para a garagem no Largo dos Guimarães e tirar o bonde de circulação. Nelson subiu com Gilmar de carona com o bonde vazio e parou no Curvelo onde estava lá o ônibus que tinha batido no bonde e a PM. Parou para fazer o boletim de ocorrência e o Gilmar disse: “ pode deixar que eu levou o bonde para a garagem”. Não se sabe por que, Gilmar ao invés de deixar o bonde na garagem, fez meia volta e pegou passageiros. Passou de novo no Curvelo e devolveu o bonde para o Nelson. Nelson também sabe-se lá o motivo, pegou o bonde lotado de desceu no sentido Largo da Carioca. Ou melhor, desceu no sentido morte. Nelson foi um dos mortos no acidente.

Eu conversei com a Dulce, viúva do Nelson e ela, que entrou em estado de choque no dia, no Salgado Filho, quando chegou pensando que o marido tinha só se machucado, até hoje não se conforma. Nelson tinha 35 anos de motorneiro, mais do que os 33 anos de casado. Amava aquele bonde´, foi o que a Dulce me falou e falou também que o Nelson era muito Caxias , todo certinho e sempre reclamava da manutenção. A Dulce tem uma filha especial, que mora com ela, trabalha para completar a pensão que recebe como viúva. Ela foi uma das poucas porque não aceitou acordo – os acordos feitos pela procuradoria Geral do Estado com as vítimas chegaram a R$ 7 milhões - e está ainda na Justiça contra o Estado. A Dulce considera o principal responsável pelo acidente o Governo, pela falta de manutenção dos bondinhos, durante anos e anos e anos como todo mundo viu nas reportagens depois do acidente e como a gente vai relembrar já, já.

Se o Nelson não tivesse morrido ele estaria no banco dos réus. Por que o principal acusado no processo que corre no Tribunal de Justiça é o motorneiro Gilmar! Que nem estava dentro do bonde na hora do acidente! E mais dois engenheiros e dois funcionários da Central, administradora dos bondinhos, ligada à Secretaria de Transportes do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Mas o Governo do Estado do Rio de Janeiro estava no banco dos réus antes e talvez, se não tivesse recorrido da sentença, quem sabe, hein? Esse brutal acidente talvez tivesse sido evitado?

Vamos lá.

A Dona Dulce está coberta de razão. A Associação de Moradores de Santa Tereza, a AMAST, uma das mais antigas do Rio, em 2008, já preocupada então com a péssima situação dos bondinhos centenários, entrou com uma ação contra o Estado, pedindo que o Governo cumprisse com a obrigação dele. Cuidasse dos trilhos, dos bondes, do sistema elétrico, enfim do funcionamento da coisa toda. Ganhou a ação. O que o governo fez? Recorreu da sentença! Falai serio. Loquimini serius. É preciso falar em latim, Loquimini serius, Boechat. Três meses depois do acidente, o Conselho dos desembargadores deu ganho de causa de novo à Amast, mas aí os bondinhos já tinham parado, o governo já tinha começado a pensar em tomar alguma providência e principalmente 56 pessoas estavam feridas e seis tinham morrido.

Eu conversei com o Jacques Schwarzstein, diretor de transportes da Associação de Moradores de Santa Teresa e ele me falou de várias outras ações. Vou resumir por que realmente é muito. Eles brigam contra as licitações, que acham suspeitas por que sempre quem ganha é uma mesma empresa, TTRANS, que fez bondes em 2008 apelidados de Frankstein pelos moradores por não terem nunca funcionado corretamente.

Existe também uma ação contra o Estado pela dilapidação do Patrimônio Público, pois os bondinhos são tombados. Foram tombados pelo IPHAN o INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – em abril de 2012 e já haviam sido tombados pelo Estado pelo INEPAC anteriormente. O Jacques me contou que os antigos bondinhos estão virando sucata lá na garagem do Largo dos Guimarães. E ainda mais uma ação, mais recente, um Inquérito Civil Público, na Promotoria de Tutela do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Estado para garantir a qualidade da obra e a segurança.

A Amast fez um abaixo assinado, com 14.500 assinaturas e levou ao Palácio Guanabara, em 2012. Era um dia em que estava até chovendo, eles ficaram ali na chuva e acabaram sendo recebidos pelo assessor do assessor do Governador Sérgio Cabral para entregar o manifesto e nunca mais tiveram resposta alguma. Só em um aspecto os moradores foram vitoriosos. O governo ia fazer um modelo de bonde modernoso e voltou atrás. O modelo dos novos bondinhos será semelhante ao dos antigos por insistência da população do bairro - esse era um dos pontos deste manifesto.

O Ministério Público tentou algumas ações contra o Secretário de Transportes do Estado, Júlio Lopes, mas foram arquivadas.

A Casa Civil do Governo do Estado, que assumiu a frente do problema dos bondinhos porque a Central, empresa responsável estava cheia de dívidas trabalhistas, O que responderam: que o investimento é de R$ 110 milhões, está sendo feita a troca de todos os trilhos e da rede dos 16 km dos cabos elétricos além da reforma da subestação elétrica para fornecimento de energia do sistema. Também será restabelecido o trecho entre as estações Dois Irmãos e Silvestre, e a estação Francisco Muratori. Haverá 7 composições equipadas para o transporte de cadeirantes, com 24 lugares. As outras sete, têm capacidade para 32 passageiros. Os bondes têm teto em fibra de vidro; travessão móvel para o fechamento das laterais enquanto o bonde estiver em movimento e piso antiderrapante em madeira. O valor da passagem ainda será definido.

Eu fico cabreira como o Jacques e o pessoal da Amast. Na prática eles só fizeram mesmo, até agora, mais ou menos 1 km de trilho. E eu estou pagando para ver se vão entregar 14 bondinhos em julho. Eu comecei a pedir as informações no dia 7 de maio e nem uma foto do modelo do bonde conseguiram me mandar até hoje. Vamos ver. Agradeço ao Alexandre Lima, aluno da Unisuam participou desta apuração e volto na sexta. Fico durante a semana com vocês no facebook que fim levou, e nowww.colunaquefimlevou.blogspot.com.br páginas feitas pelo outro aluno da Unisuam, Vinícius Melo.

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