sexta-feira, 25 de abril de 2014

Taça Jules Rimet

Hoje é o último dia para ver a Taça da Copa no Rio de Janeiro. Esperamos que ela fique de vez no Brasil é claro, mas nessa turnê que a Taça da Copa do Mundo da Fifa está fazendo por todas as capitais, esta sexta é o último dia dela no Maraca. Bem bacana a exposição que tem uma parte gratuita e outra, maior, com mais atrações que só vê quem participa da promoção da Coca Cola, que pagou aí uma grana forte para ser a patrocinadora e ter o direito exclusivo de andar com a taça pra lá e pra cá. Com um detalhe. Só quem pode pegar a taça, segurar a taça com as mãos, são ex-campeões mundiais e Chefes de Estado. Fora isso tem que colocar luvas, e mesmo assim, só seguranças oficialmente designados. Regra da Fifa. Então, o Que fim levou de hoje foi cascavear quem meteu a mão em outra taça, a muito famosa e querida Jules Rimet, conquistada definitivamente pelo Brasil com o tricampeonato da Seleção em 1970. Que fim levou a Jules Rimet?

Todo mundo sabe que a Jules Rimet desapareceu. Mas vamos relembrar. Ela desapareceu no dia 20 de dezembro de 1983. Foi roubada da sede da CBF no Centro da cidade na noite de uma sexta feira. O caso eu conto como o caso foi. E foi um caso que envolve assassinato, trafico de drogas, tortura, fugas e até muita comédia. Tragicomédia, né?
Vamos lá.
Sérgio Pereira Ayres, conhecido com Sérgio Peralta, durante um jogo de baralho em um bar do Santo Cristo, ali na Zona Portuária, convidou Antonio Setta a roubar a taça Jules Rimet. Sergio Peralta era gerente de um banco e também fazia alguns serviços para um clube de futebol e conhecia a sede da CBF, na Rua da Alfândega. Antônio Setta, que no inquérito é apontado como afeito a pequenos furtos e entendedor em cofres, teve um ataque de patriotismo e recusou a proposta. Mas o Sergio Peralta encontrou quem aceitasse. E seus cúmplices, Francisco José Rocha Rivera, o “Barbudo”, e José Luiz Vieira da Silva, o “Bigode”, não tiveram a menor dificuldade em surrupiar a taça em menos de 20 minutos, depois de render o único vigia noturno da sede da CBF, o Seu Maia, que ficou amordaçado e teve os olhos vendados com esparadrapo. Agora aqui entra a comédia.
A Jules Rimet estava exposta em uma vitrine com vidros a prova de bala. Só que essa vitrine tinha uma moldura de madeira e por trás era presa na parede com pregos. Então bastou um pé de cabra para abrir aparte de trás da vitrine e pegar a Jules Rimet com outras três taças que estavam na mesma vitrine e dar o fora! Para complementar a comédia, a CBF tinha feito uma réplica da taça e tinha um cofre, mas era a réplica que estava guardada no cofre, o que foi motivo de piadas mundo a fora. Falai sério, Loquimini serius!!!!!.
Lá se foi a nossa tão suada taça Jules Rimet para as mãos de Peralta, Barbudo e Bigode. Notícia em todos os jornais. Uma verdadeira comoção nacional. Mas, tchan, tchan, tchan tchan, aí começou a maldição.
A taça, de 30 centímetros de altura com 1,8 kg de ouro puro, moldada no formato de uma mulher com asas estilizadas e batizada com o nome do presidente da Fifa na época, Jules Rimet,o homem que criou a Copa do Mundo, foi encomendada ao artesão francês Abel Lafleur e ficou pronta em abril de 1929. E olha, ela não perdoou ninguém que nela ousou colocar as mãos.
Os ladrões tiveram muito má sorte. Aquele Antonio Setta que estava lá no bar do Santo Cristo jogando baralho e não quis participar do roubo, um belo dia deu com a língua nos dentes para um policial e contou que o Sérgio Peralta era o mentor do roubo. Peralta foi preso e, segundo consta nos depoimentos dele, apanhou muito, foi torturado e entregou Barbudo e Bigode que também disseram que apanharam muito para dizer onde estava a nossa amada taça. Mas a taça não estava com eles. Só em 1984, um ano depois, a polícia finalmente chegou ao receptador do roubo invadindo o escritório de um comerciante de ouro, no centro do Rio. Agora sente o nome do escritório. Aurimet. A junção das palavras auri – ouro em latim com Rimet. Sugestivo não? O dono era Juan Carlos Hernandes, argentino acusado pelo Barbudo de ter ficado com o troféu. Na verdade, Hernandes tinha cortado a nossa Jules Rimet em pedaços que foram derretidos e transformados em barras de ouro.
O julgamento de Peralta, Barbudo, Bigode e Hernandes aconteceu em 1988, cinco anos depois do crime, como é comum aqui no Brasil. E eles foram condenados a 5 anos o mentor, 6 anos os ladrões e 3 anos o receptador. Mas as confusões foram muitas. E a maldição da taça pior ainda. Logo que saiu a sentença, Peralta conseguiu fugir, só foi preso em 1994, ficou 2 anos na cadeia e obteve condicional. Morreu em 2003. Barbudo também fugiu, mas por pouco tempo. Só que, depois de seis anos em cana, logo depois que ganhou a condicional, foi assassinado com cinco tiros. Bigode ficou foragido muito tempo, até 1996, aí cumpriu pena na Colônia Agrícola e ganhou a condicional. Sumiu, o que não deve ter sido difícil para um cara que se chama José da Silva.
O argentino, não é piada gente, foi preso em 1998, mas não foi por causa da taça. Ele estava com 7,5kg de cocaína em uma mala de mão, em São Paulo, na estação da Luz do Metrô e tinha que ir para a Rodoviária despachar a droga para o Rio. Mas ele não conhecia bem a cidade e foi pedir informações para um cara que estava andando atrás dele. O cara era Polícia Federal e prendeu ele na hora. Já era uma tocaia. Quando chegaram na delegacia, o delegado, botafoguense doente, reconheceu a carinha do Hernandes na hora como o acusado do caso da Taça Jules Rimet! Resultado: sete anos de prisão!
A maldição da taça pegou também o Antonio Setta, o alcaguete, aquele que contou tudo para o policial e levou ao desfecho do caso. Morreu em um acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas no dia em que ia para uma audiência no Tribunal de Justiça depor sobre o caso.
E Que fim levou o ouro? Nunca foi encontrado. Deve andar por aí no pescoço de alguém.... Mas muito cuidado hein! Porque a Jules Rimet era tão danada que da outra vez que ela sumiu se deram mal todos os que nela ousaram tocar também.
Foi em 1966, quatro meses antes da Copa do Mundo na Inglaterra. A taça estava em uma exposição em Londres e sumiu. Mas antes que o Império Britânico fosse abalado, a taça foi encontrada em um jardim, embrulhada em pedaços de jornal. Por um cachorro! O cachorro chamado Pickles chegou a conseguir uma recompensa entregue a seu dono, no valor de R$ 2 mil. Mas olha que coisa. Até o cachorro morreu. Enforcado na própria coleira, assim como morreu o suspeito de envolvimento neste caso, pouco depois do fato, Edward Betchley.
Mas a taça Jules Rimet não morreu. Seu roubo virou livro, programa de TV, na série Linha Direta da TV Globo, com participação dos craques Rivelino, Pelé e Gérson e um filme hilário do Casseta e Planeta em que Bussunda fazia o papel de um líder de um grupo de comunistas que queriam roubar a taça de Pelé e Carlos Alberto Torres. O longa, de 2003, era uma crítica muito bem humorada da forma como os governos militares tentavam se aproveitar politicamente do nosso futebol.
Agora, a Jules Rimet, ou melhor sua réplica, igualzinha e em ouro, está vivinha e bem aqui no Rio de Janeiro. O Antônio Carlos Napoleão, funcionário que cuida do acervo da CBF e que foi ouvido por nossa rigorosa apuração, da qual participou o aluno Alexandre Lima, do curso de jornalismo da Unisuam, está se preparando para mostrá-la a todos na nova sede da Confederação que tem previsão de ser inaugurada em junho, antes da Copa é claro, na Barra da Tijuca, ali perto do Parque Chico Mendes, na Rua Luiz Carlos Prestes, 130.
Napoleão lembrou que todos os países campeões da Copa até 1970, Uruguai, Itália, Alemanha e Inglaterra também mandaram fazer uma cópia da taça. E se você quiser fazer a sua é só ter R$ 5 mil reais sobrando e entrar na internet e encomendar. Tem um site que faz. Chama réplicas de troféus e lá a Jules Rimet custa mais caro que a atual Taça da Copa do Mundo da Fifa. Eu também acho a antiga mais bonita.
Quem quiser ver a atual, vai lá no Maraca hoje, a exposição é bem bonita. É de graça. E hoje tem show de Gaby Amarantos e Monobloco às 8h da noite. Uma outra parte com vídeos e jogos interativos faz parte da promoção da Coca Cola e aí tem que comprar o refrigerante e trocar por ingresso, mas só a parte gratuita já vale a pena, dá pra ver o troféu tirar fotos e curtir bastante. Só no primeiro dia, os visitantes foram mais de 15 mil. Vou ficando por aqui, vocês ficam comigo durante a semana no facebook Que fim levou criado pelo aluno Vinicius Melo e também no blog colunaquevimlevoublogspot.com.br e eu deixo, como sempre a música. Samba enredo da Caprichosos de Pilares, do ano seguinte ao roubo da taça. Falava das coisas que não existiam mais, que tinham sumido, como a virgindade, votar para presidente e a taça. Se chama E por falar em Saudade. Até Sexta. Fui! 

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