sexta-feira, 21 de março de 2014

Vigas da Perimetral - Parte 2



Que fim levou de hoje tem o título E a viga continua! Poderia também colocar como subtítulo um ditado que minha avó usava. Porta arrombada, cadeado nela! Para se referir a tudo que, depois de estragado é que se vai tomar alguma providência.

Relembrando, semana passada nosso tema foi o furto das vigas da Perimetral em que o inquérito rola da Delegacia de Roubos e Furtos e nada se apurou até agora, sete meses depois do dia em que, pelas fotos de satélite, as seis vigas que estavam em um terreno próximo o Cais do Porto foram surrupiadas. Mas naquela minha apuração, foi levantada outra polêmica: a Prefeitura estar vendendo a preço de banana um material valioso. Boechat até disse que preferia o ladrão!!!
Então eu acho que virei a rainha da viga, a musa da viga ou alguma coisa assim, pois ao que tudo indica, a nossa divulgação aqui e a determinação de um engenheiro, João Thomaz Araújo, presidente do sindicato de Volta Redonda, acabaram dando uma reviravolta na história. Anuncio em primeira mão que a Prefeitura vai utilizar as vigas em obras na cidade, para reduzir seu custo, exatamente como era a proposta do engenheiro João Thomaz desde antes do primeiro leilão. Neste leilão, realizado em 21 de novembro, 384 vigas foram vendidas a R$ 520,00 a tonelada quando, segundo o João Thomaz Araujo, o valor de compra de uma tonelada na CSN é de R$ 12 mil. Cerca de 24 vezes mais.
Agora vejam só! O presidente da CDurp, companhia de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura, que toca as obras do Porto Maravilha, o também engenheiro Alberto Silva, ligou para mim para anunciar a novidade, anunciar esse reaproveitamento que nunca tinha sido falado, né?. E eu fui detalhar o assunto com a Secretaria Municipal de Obras.
Cerca de 135 vigas da Perimetral serão reaproveitadas nos reservatórios que estão sendo construídos para captar águas das chuvas na Rua Heitor Beltrão e nas praças Niterói e Varnhagen, na Tijuca. Nesta quarta-feira, anteontem, as vigas começaram a ser cortadas e transportadas. E o presidente da Cdurp fez questão de ressalvar que elas vão ficar armazenadas em um local seguro até o uso.
As vigas, que nesse caso da obra dos piscinões subterrâneos, variam de 26 a 42 metros de comprimento, vão ser tratadas e recuperadas para se adequar a esse novo uso que é a sustentação das lajes que tamparão os reservatórios. Se a prefeitura tivesse que adquirir novas vigas no mercado ia desembolsar um valor em torno de R$ 52 milhões.
Segundo a Fundação Rio-Águas, que toca essa obra, a economia vai ser de exatos R$ 38 milhões e 500 mil. Os R$ 52 milhões que se gastaria para compra novas menos R$ 13milhoes e meio, custo estimado do beneficiamento e do transporte.

Outra novidade é que a A Cdurp, criou um controle para registro da saída das vigas dos canteiros de obras da Perimetral. A cada saída, agora é emitido um documento que contém quantidade e centimetragem das vigas transportadas, numeração individual dessas vigas, assinatura de responsável da gerenciadora da obra (contratada pela Cdurp), assinatura do responsável pela empresa de destino das vigas, placa do caminhão, nome do motorista, data e hora da saída. Esse mecanismo vai permitir a segurança e o rastreamento das vigas da saída ao destino para controle da prefeitura. Agora loquimini serius, fala sério! Por que não fizeram isso antes do roubo das vigas??? E por que só agora anunciam esse reaproveitamento?
Vamos lembrar que na semana passada eu também informei que o presidente do sindicato dos engenheiros de volta redonda, o João Thomaz Araujo, entrou com um requerimento no MP, solicitando investigação de improbidade administrativa do Prefeito Eduardo Paes pelo mau uso dessas vigas e que ele me disse que os prefeitos de Volta Redonda e Barra Mansa tinham pedido as vigas, antes do primeiro leilão, para obras em suas cidades e ficaram chorando quando viram elas serem leiloadas baratinho.
Vamos por partes. Ministério Público – o requerimento denunciando a destinação das vigas para sucateiros e a falta de projetos para reutilização foi feito em 24 de outubro.
O promotor da 8ª Promotoria de Tutela Coletiva da Cidadania convidou o Dr. Alberto Silva para uma reunião no dia 19 de novembro, três dias antes do leilão que aconteceu dia 21 de novembro e 5 dias antes da implosão que aconteceu no domingo, dia 24 de novembro.
Eu consegui a Ata desta reunião que mostra que o Dr. Alberto Silva, presidente da Cdurp tinha pensado sim em usar as vigas em obras da cidade. No depoimento, ele alega que as obras citadas pelo presidente do sindicato dos engenheiros de volta redonda, João Thomaz que entrou com o requerimento, não são viáveis e que tinha recebido da Secretaria Municipal de obras a informação de que ela poderia aproveitar somente entre 50 e 70 vigas e mesmo assim em obras no segundo semestre de 2014. Loquimini serius, então mudou tudo, pois agora as vigas, não 50 ou 70, mas 135 vigas, já estão sendo cortadas e transportadas para a Tijuca. O promotor não encerrou o caso. Enviou o inquérito para o Gate, Grupo de Apoio Técnico Especializado, que é o órgão do ministério público que pode dar um parecer técnico confirmando ou não as afirmações dos envolvidos.
Na conversa comigo, o presidente da CDURP, Alberto Silva falou que é preciso pensar diferente em termos de economia, pois a demolição da Perimetral e o projeto do Porto Maravilha trarão muitos benefícios à cidade, que representam também economia. Citou por exemplo, pesquisa da Fundação Dom Cabral, uma escola de negócios, com cursos de pós graduação e MBA para executivos, considerada a melhor da América Latina. No Rio, esse custo é de R$ 5 bilhões .593.526.400,00/ano. Como é que calcularam? Fizeram uma fórmula que leva em conta o Impacto do gasto a mais com combustível e emissão de poluentes. Por pessoa, no RJ o custo de engarrafamentos foi calculado em R$ 7.662,23 por pessoa. A pesquisa mediu também o tempo médio de congestionamento nas cidades desde 2004. No Rio, chegava a uma hora e 12 minutos em 2009, com projeção de ultrapassar uma hora e meia em 2012.
O presidente da Cdurp acha que este custo será reduzido com a obra da Perimetral que já devia ter sido feita há anos para evitar engarrafamentos. E ainda põe na conta, a favor da Prefeitura, toda a recuperação dos prédios antigos que o projeto está fazendo na área.

E os pedidos das cidades de usar as vigas que o engenheiro Araujo, do sindicato de Volta Redonda, me disse que ficaram sem resposta? A Cdurp respondeu sim. A consulta foi feita ao Governador Sérgio Cabral pela deputada Inês Pandeló, por e-mail. O governador reenviou a mensagem dela para o Secretário de Obras Alexandre Lima que passou a pergunta para o presidente da Cdurp, Alberto Silva que respondeu à deputada também por e-mail em 1º de novembro, dizendo que era preciso ter projetos viáveis e levar em consideração os custos de transporte e armazenamento. Mas essa resposta não chegou aos prefeitos interessados.
O prefeito de Volta Redonda, Antonio Francisco Neto, está só aguardando essa resposta para arcar com o custo do transporte e levar as vigas para construir uma ponte de 400 metros de extensão cruzando o Rio Paraíba do sul, para beneficiar dois bairros. O engenheiro que projetou a ponte , Hildoni Deley calcula que usando as vigas, haverá 30% de redução no custo da obra, que é de R$ 60 milhões, que faz parte do PAC Mobilidade Urbana e prevê ainda três viadutos. O professor Hildony calcula o custo do transporte de cada viga em R$ 3mil a tonelada quando para comprar uma nova gastaria R$ 12mil por tonelada, fora a diminuição do tempo de construção. É muita coisa, segundo ele, porque as vigas, o material estrutural, representam cerca de 50% do valor de uma obra deste tipo. Além disso, a cidade de Volta Redonda tem um histórico na utilização das estruturas metálicas em obras de engenharia civil, então a ponte ainda combinaria como visual arquitetônica da cidade.

E Barra Mansa? O secretário de Planejamento da cidade, Ronaldo Alves, me falou que tem muito interesse nas vigas também para a construção de uma ponte. Seriam 9 vigas para uma ponte de 75 metros cruzando o mesmo Rio Paraíba do Sul. Ele me disse que a o Prefeito Jonas Marins Aguiar chegou a conversar com o vice-governador Pezão sobre o assunto logo que souberam da implosão, mas logo em seguida veio o leilão, e não recebeu resposta.
E quando eu falei que a Cdurb informa que pode doar sim para as prefeituras que quiserem, o Prefeito de Barra Mansa, Jonas Marins Aguiar, disse que vai ligar para a Cdurp e pedir as vigas. O Secretário ainda disse que quando inaugurar a ponte, vai colocar uma plaquinha com o meu nome na ponte.

Quem participou da apuração do Que fim levou de hoje foi Alexandre Lima, estagiário do curso de Jornalismo da Unisuam e foi ele quem me lembrou uma ótima música para Reflexão. A música é a marchinha que ganhou este ano o concurso de Carnaval que a Fundição Progresso já faz há nove anos. "Cadê a Viga", de Cassio e Rita Tucunduva, beijo fui!

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