Na primeira fase da derrubada do viaduto da Perimetral para a modernização e embelezamento da zona portuária do Rio, foram retiradas 18 vigas de aço especial. Destas, seis foram para um terreno perto da Avenida Brasil, que serve de depósito para as obras de revitalização do Cais do Porto, sob responsabilidade da concessionária Porto Novo, licitada pela Prefeitura. No dia 9 de outubro, o Bom Dia Brasil deu a notícia do furto. Neste mesmo dia, a Prefeitura encaminhou uma notícia crime à Polícia Civil. No dia 11 de outubro a Delegacia de Roubos e Furtos abriu o inquérito. Durante as investigações, examinando as imagens de satélite verificou-se que até 10 de junho elas estavam lá. A próxima imagem feita do local, do dia 13 de agosto, já mostra o terreno sem as vigas. Então 13 de agosto, dia sinistro, agourento, pode ser dado como o dia da constatação do sumiço, sete meses atrás.
Eu procurei saber exatamente que vigas são essas e para isso fui conversar com o engenheiro agrônomo Agostinho Guerreiro, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro, o CREA. Ele me explicou que essas vigas são precursoras do avanço da tecnologia brasileira na fabricação siderúrgica, pois têm resistência de até três séculos e meio à ferrugem. Elas foram fabricadas na nossa siderúrgica CSN de Volta Redonda. Antes, eram todas importadas dos Estados Unidos. Foi um feito histórico. Há mais ou menos 40 anos, enquanto se desenvolvia o projeto da Perimetral, a Companhia Siderúrgica Nacional desenvolvia o projeto das vigas, porque elas estariam à beira mar, sujeitas à corrosão. Se fossem feitas de aço comum, o Dr. Guerreiro falou que a manutenção custaria tão caro que não valeria à pena. Na composição das vigas entram alguns metais muito caros, como o cádmio e o nióbio que dão a elas a característica de resistência geral e de resistência especial à ferrugem. Um detalhe, gente, é que não é exatamente que elas não enferrujem. É que elas criam uma crosta de ferrugem de alguns milímetros e isso vira como que uma casca que protege, que impede a entrada de oxigênio e aí sim impede também que os sais marinhos misturados com o oxigênio formem a corrosão. Uau Por isso é que elas duram de três a 4 séculos.. Ai,Como eu tô científica. O aço se chama aço corten e é usado também em esculturas e monmentos. Aqui no Brasil pode ser visto, por exemplo na estrutura da Catedral de Brasília,
O Dr. Agostinho Guerreiro qualificou a fabricação destas vigas, naquele tempo, a década de 70, de um grande feito e compartilhou comigo a perplexidade de ver, que em apenas meio século, menos de meio século, né, elas já se encaminharam para a destruição, de uma forma criminosa e com os envolvidos e responsáveis sem dar explicações pra nós, os donos das vigas!.
Como presidente do CREA, pelo absurdo que representou o furto e porque, segundo ele, o estatuto do conselho prega que é obrigação da classe trabalhar em benefício da sociedade, ele esteve várias vezes no local de onde foram furtadas as vigas. E conversou com pessoas que viram como elas foram levadas.
Eu aproveitei os grandes conhecimentos técnicos dele e essa, vamos dizer assim investigação privada, para a gente tentar reconstituir a cena do crime. Vamos lá. Tchan tchan tchan tchan.
Em primeiro lugar, Boechat, fica claro que as vítimas foram esquartejadas. Sem brincadeira. O presidente do CREA. Dr. Agostinho Guerreiro, tem certeza que as vigas foram picotadas com maçaricos para ficar em tamanhos menores de cerca de 1,5 a 2m de comprimento, mantendo sua largura que era de mais ou menos 1,20m. Isso por que? Para caberem em caminhões guindastes capazes de eles mesmos elevarem estes pedaços do solo. Caminhões especiais que fazem este serviço de levantamento de carga pesada sem precisar daqueles guindastes enormes que chamam muita atenção. Este tipo de caminhão tem duas partes e um espaço no meio onde se encaixa a carga e o espaço é mais ou menos deste tamanho, de 1 metro e meio.
Por isso o Dr Guerreiro acha que as vigas foram cortadas neste tamanho. Então, cada viga de 40 metros roubada, cortada neste tamanho, vamos dizer de 2 m rendeu 20 pedaços de 1 tonelada cada. Prestenção. Como eram seis vigas, ficamos com 120 pedaços, cada um com 1 tonelada. Dr. Guerreiro calcula que entre cortar com o maçarico e carregar os caminhões não demorou menos que três ou até quatro dias essas operação do furto. Três ou quatro dias !!!!! Dr Agostinho Guerreiro disse que as pessoas que deram depoimento ao Crea viram isso, esse movimento, durante dias, mas pensavam que era parte do trabalho da empresa Porto Novo, a que trabalha normalmente para o desmonte da perimetral.
Nosso Sherlock Holmes, quer dizer o Dr Agostinho Guerreiro , então me disse, Watson, é claro que toda essa logística custa muito dinheiro. Um homem sozinho não faz esse trabalho. Ele foi planejado e além do mais ele foi planejado não foi para vender as vigas para o ferro velho, foi para elas serem derretidas em uma siderúrgica e depois moldadas de novo em um material necessário como anticorrosivo, pois só assim teriam um valor que compensasse todo esse custo e esta logística e este risco! Aha. Quem seriam os receptadores do furto? Fabricantes de embarcações, de pontes, construtores de obras à beira mar. E por onde as investigações deveriam estar? Elementar, Meu caro Watson. Pelas empresas que alugam caminhões guindastes, pelas fundições.
Bem, é claro que eu fui correndo apurar melhor essa matéria e para isso contei com a participação da Renata Nolasco, aluna do 4o período do Jornalismo da Unisuam do campus de Bonsucesso. Primeiro, eu liguei para a Polícia que é paga por nós para investigar. Quem começou no caso foi o Rodrigo Santoro. Calma. Não o ator, o delegado Rodrigo Santoro. Na época, ele deu entrevistas, informando que tentou obter mais informações sobre o caso por meio de imagens de câmeras de monitoramento da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego do município), mas eles não mantém um arquivo com os vídeos, então nada feito. Na mudança geral que ocorreu com a saída da Marta Rocha, não a miss, mas a chefe da polícia civil do Estado do rio, Saiu o Rodrigo Santoro da e entrou no caso o Marcio Braga, não o dirigente do Flamengo, mas o novo delegado da Delegacia de Roubos e Furtos. Ele está no caso há um mês, mas ainda está analisando e não se sente apto a falar com a imprensa, NEM MUITO MENOS A DAR SATISFAÇÕES À SOCIEDADE. Então resume-se a informar, através da assessoria de imprensa, que foram analisados os GPS dos caminhões da empresa que trabalha com os guindastes na retirada das vigas e que foram ouvidas 16 pessoas. 16 pessoas. Ui titia. Então ficamos assim: 7 meses se passaram, e é isso aí. Temos que utilizar a expressão que eu criei especialmente aqui para o Que fim levou Loquimini Serius. Falais Sério. Fala sério na segunda pessoa do plural e em latim Loquimini Serius, para dar mais solenidade à nossa indignação.
Não me conformei não e corri atrás de um detetive particular. Um não, o maior do Brasil! Bechara Jalkh. O homem é uma lenda. Ele é libanês, filho de mãe brasileira e já tem mais de 80 anos, mas nunca foi desbancado. Desvendou milhares de crimes com inteligência e ainda trabalha na área de investigação de crimes empresarias. Criou até um curso de detetives por correspondência que formou mais de 150 mil! Bem o Bechara me falou que esse caso não vai demorar só esses 7 meses para ser resolvido. Vai demorar mais de 7 anos. Sabe por que, por que tem um culpado muito forte. Ou melhor, uma culpada. A corrupção. Olha o que ele falou. Simplesmente não é possível que, com tantos métodos modernos, um crime que leve tanto tempo para cortar e transportar o fruto do furto não seja descoberto tanto tempo depois. O que acontece é que quem está investigando acaba se envolvendo e está sendo comprado. No Brasil em todos os setores, municipal, estadual e federal, onde se investiga tem corrupção. Ele me disse que é isso o que ele vê no trabalho que realiza atualmente para clientes empresariais no setor de fraudes, problemas tributários, tentativas de extorsão.
Como detetive falou que seria fácil , facílimo investigar este caso, verificando as empresas que alugam caminhões capazes de transportar o furto que não são muitas no Rio, investigar também as outras capazes de fundir as vigas e também e principalmente e rapidamente as imagens das câmeras das vias por onde mais obviamente passaram os caminhões. Ele até brincou. Para a Vieira Souto e para a Rua do Ouvidor, né Belisa Ribeiro é que eles não devem ter ido.
Então meus amigos, para o maior detetive do Brasil, Bechara Jalkh, o crime está solucionado. Segundo ele, corrupção e roubalheira são as culpadas pelo sumiço das vigas da Perimetral! Loquiminis serius. Falais serio. Fala sério
Conversei também com o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, e um dos maiores peritos do Brasil, Nelson Massini, formado em medicina e direito, que desvendou alguns dos maiores crimes ocorridos no Brasil (reconstruiu a face do crânio do nazista Josef Mengele/ Exumou o corpo do guerrilheiro Carlos Lamarca, por exemplo, reabriu os casos dos assassinatos de Stuart Angel Jones e de Zuzu Angel. Fez o laudo da morte de Chico Mendes e reabriu o caso do assassinato de PC Farias e a namorada Suzana Marcolino da Silva), E antes de ele me dar detalhes jurídicos, foi logo dizendo isso, que é um total desrespeito até hoje uma autoridade não ter vindo a público dar uma satisfação sobre este caso que considera o maior roubo da história do Rio de Janeiro. Ele também acredita em corrupção olha só o que ele me falou: parece que há forte ligação dos mandantes com gente da Prefeitura ou com grupos ligados aos terceirizados pela Prefeitura porque não é possível não conseguirem localizar. Ainda nas palavras do Professor Nelson Massini, o roubo foi feito para que essa liga nobre fosse derretida e poucas fundições que existem podem fazer isso. E ele ainda comentou que hoje, em qualquer ataque de bandidos, a polícia logo sabe o nome, divulga a fotografia... então ele concluiu que a impressão que fica para todos é que há interesse em ocultar e até citou o ex-presidente Jânio Quadros que falava nas Forças Ocultas. Com ele, além dessa aula de como falar sem papas na língua, aprendi que o crime é o de furto qualificado e o artigo a que ele corresponde no Código penal é o 155 com pena variando de 3 a 8 anos de prisão.
E o que dizem as “otoridades” e as empresas? Vamos lá.
Porto Novo – a que fazia e faz o trabalho de derrubada da perimetral e portanto de retirada das vigas. Muda. Calada. Transreta A dos caminhões guindaste que carregam as vigas. Muda. Calada. Liguei e as comunicadoras respondem que as empresas estão colaborando com o inquérito ou barbaridades que nem a da Transreta que os juízes mandaram não falar nada. Se nem tem processo ainda que juízes são esses? Olha é muita falta de respeito não é com a locutora que vos fala. É com a sociedade, é com todos nós. As empresas nem se preocupam em dar uma resposta coerente. É dane-se o patrimônio público, dane-se que já se passaram sete meses e não se descobriu nada, dane-se.
E a Prefeitura? Vamos começar pelo prefeito Eduardo Paes que achou bacana levar um pedaço da viga para a casa dele. Tem gente que quando eu falo sobre isso pensa que é brincadeira minha. Não é. O prefeito mandou levar um pedaço de viga para a residência oficial da Gávea Pequena como um marco representativo do processo de revitalização da região portuária. Perguntei se ele pediu autorização para alguém, a assessoria disse que não precisa porque como o bem é público e a casa é pública não precisa. Perguntei de qual orçamento saiu o pagamento do transporte do tal marco representativo e qual foi o custo. Não responderam.
Sobre o furto, a prefeitura informou que a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), empresa da própria Prefeitura, gestora da operação urbana do Porto Maravilha, abriu um processo no dia 9 de outubro, dia em que foi divulgado o furto das vigas. E que a Cdurp publicou no Diário Oficial do Município um ofício de apresentação de defesa da concessionária Porto Novo, estabelecendo prazo de cinco dias para a resposta. A Prefeitura me informou que o prazo foi cumprido pela concessionária, mas que Cdurp aguarda conclusão do inquérito policial para consolidar o seu parecer final. Ora eu acho que a gente merecia saber logo o que consta nessa defesa, vocês não acham?
Mas o pior de tudo eu deixei para o final. O valor que a Prefeitura pretende cobrar de multa da Porto Novo. Vai ser menos de 60 mil reais. Porque a Prefeitura vai calcular de acordo com o valor da tonelada atingido no leilão das primeiras 384 vigas concluído em novembro do ano passado, que foi de R$ 520 reais a tonelada. Isso que a prefeitura colocou o valor base a r$ 320,00)
Os profissionais de engenharia estão gritando contra isso Boechat, estão revoltados, estão esperneando mesmo. Eu conversei com o engenheiro João Thomaz Araújo, presidente do sindicato do Engenheiros de Volta Redonda, o Senge VR. A avaliação dele é de que asa vigas furtadas valem bem mais que 60 mil reais. Segundo ele o valor de mercado delas é de quase R$ 1 milhão e meio de reais. Isso porque o preço da Cada tonelada do material destas vigas custa R$ 12 mil reais no polo siderúrgico de Volta Redonda. Se cada uma tinha 20 toneladas, valia R$ 240 mil reais, multiplicado por seis, que foram seis a furtadas chegamos a !R$ 1 milhão 440 mil reais.
O presidente do sindicato dos engenheiros de Volta Redonda , João Thomaz Araujo me disse que a prefeitura está vendendo filé mignon como carne de segunda, e que o leilão foi praticamente uma doação. Ele está fulo da vida. Considera o não reaproveitamento das vigas um retrocesso à economia verde e uma vergonha para a engenharia, Disse que com essas vigas poderiam ser feitas muitas obras e que elas deveriam ser guardadas para serem usadas em obras na própria cidade do Rio de Janeiro, como, por exemplo, na expansão do Elevado do Joá, que é uma das exigências do (COI) para a realização das Olimpíadas de 2016. Mas ele fez uma denúncia muito grave. Que desde agosto, antes da retirada da primeira viga, ele formou um grupo de trabalho e apresentou ao prefeito Antonio Francisco Neto projetos de reaproveitamento das vigas para serem levados ao Prefeito Eduardo Paes. Nunca foram ouvidos. Também a cidade de Barra Mansa tentou pedir as vigas para projetos, segundo ele e não foi ouvida. Em 23 de outubro o engenheiro João Thomaz Araujo enviou ao Procurador Geral do Ministério Público do Rio de Janeiro um requerimento, pedindo que se apurasse improbidade administrativa na venda das vidas a preço de sucata. E não desistiu da luta. Em dezembro participou com o seu grupo de audiência pública com a Agência Nacional de transportes Terrestres em que de novo defendeu que as 600 vigas que ainda não foram leiloadas sejam reutilizada apresentando desta vez a sugestão de que sejam usadas na construção dos 8 km da terceira pista que será feita na Serra de Araras, obra estimada em mais de 1 bilhão de reais. Ele calcula que o uso das vigas pode reduzir o custo em quase 40%.
É isso aí. Vocês ficam com a musica para reflexão e eu fico com vocês durante a semana no facebook Que fim levou, pagina feita pelo aluno Vinícius Melo, do 7º período do jornalismo da Unisuam. Entra lá e dá a sua sugestão sobre o que você gostaria de ver abordado aqui na coluna. A música para reflexão é o samba enredo de 1988 do Império Serrano. Fala sobre a fusão da antiga Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro e usa o termo FUNDIRAM TODA A COMPETÊNCIA, apropriado para o caso das vigas, vocês não acham? E o título é Para com isso, dá cá o meu. Beijo, Fui!
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