Eu conversei com a mãe e com o pai da Joanna. Eles nunca foram casados, a Joanna nasceu de um relacionamento que não foi adiante e os dois, André Marins, o pai, e Cristiane Marcenal, a mãe, brigaram pela posse dessa criança praticamente desde que ela nasceu. Cristiane diz que o pai nunca quis ver a filha. André diz que a mãe o impedia. Cristiane perdeu a guarda temporária da filha para André, em um processo judicial que a obrigou a entregar a filha ao pai quando ela tinha 5 anos. Cristiane, que é médica cardiologista, diz que isto aconteceu porque o pai, serventuário da Justiça, tinha padrinho poderoso - o procurador Antonio Carlos Biscaia, casado com a tia dele, Maria Helena. Biscaia move uma ação contra Cristiane que ainda não foi julgada.
Lá se foi Joanna, por ordem judicial, passar 90 dias com o pai. Não foi completado esse período. Antes, Joanna foi levada pelo pai ao hospital Riomar, na Zona Oeste, em um estado grave. Estava com convulsões, segundo ele, com problemas de controlar a urina e as fezes por não estar tomando remédios controlados que, segundo ele, tomava sempre e que a mãe não lhe avisou que eram necessários. Cristiane diz que a filha nunca tomou esses remédios, o que foi confirmado pelo pediatra da menina Wanderley Porto em depoimento na delegacia e na Justiça. Para cúmulo dos problemas, a menina foi atendida por um falso médico, Alex Sandro um estudante de medicina que usava carimbo de outro médico, acobertado por outra médica, a pediatra Sarita Fernandes
Joanna recebeu medicamentos errados, segundo o pai, e foi mandada para casa desacordada.
Foi, depois, transferida para outro hospital da rede Amiu e lá já chegou em coma. Nunca mais se recuperou.
Cristiane foi avisada por uma amiga de André. Saiu de Campos de Jordão, onde morava, com o marido atual e os filhos gêmeos que teve deste segundo casamento. Ficou chocada com o que encontrou. A menina tinha hematomas, queimaduras graves, cortes, marcas até na cabeça. Foi chamado o IML, Instituto Médico Legal, para fazer um laudo. Segundo Cristiane, esse laudo indicou maus tratos e tortura da menina. André chegou a ser preso - mas por ter ameaçado testemunhas em uma entrevista coletiva dada após a morte da filha e ficou por apenas cinco meses.
A única testemunha do caso é Gedires, uma empregada que fazia diárias para André e a mulher dele, Vanessa Maia Furtado. Ela encontrou Joanna deitada em um tapete, com as mãos e pés envoltos em fita crepe e toda suja de cocô e xixi. Ao pedir explicações para André, ouviu dele que a menina era “especial”. pediu para limpá-la e o pai não permitiu. Falou que o pai se justificou dizendo que amarrou as mãos da filha para ela própria não se machucar durante as convulsões. Gerides não suportou a pressão. Confidenciou aos filhos dela o que tinha presenciado e eles a aconselharam a não voltar à casa de André. Ela foi a uma delegacia tentar denunciar e o delegado não quis aceitar a queixa. Deixa isso pra lá, é coisa de família. Mas depois Gerides foi à luta e denunciou na Justiça. Ela disse que chorou muito e, em entrevista para o Fantástico, dois anos depois disse: “Estou chorando até hoje”.
Olha eu falei com o André sobre essa cena. Uma criança deitada nas próprias fezes e urina, com as mãos em fita crepe. Ele me disse que tratava muito bem a filha e que nesse dia teve que levar suas outras filhas na escola e deixou a Joanna nesta condição por um pequeno tempo, 20 minutos. André também me interpelou. Me perguntou se eu tenho integridade profissional, me disse que a imprensa deve ser regulamentada por que nós, os jornalistas, somos tendenciosos e já o julgamos culpado. Falou que o Rodolfo e o Boechat deveriam ter apurado melhor esse caso e que eu fui a primeira jornalista que procurou ouvir a versão dele. Enviou para mim, por e-mail, a íntegra do depoimento da empregada Gerides , marcando os trechos em que ela afirma que nunca viu ele maltratando a Joanna. André afirma que a filha dele morreu por medicação errada, que suas condições de saúde eram consequências de abstinência dos remédios, o que a mãe nega. E concluiu dizendo que todos nós vamos nos surpreender por que ele sairá ileso deste caso.
Será mesmo? O processo está no Tribunal de Justiça. É a nossa Justiça brasileira, falai sério, luquemini serius em latim! Quatro anos, no próximo dia 13, semana que vem, e até agora nada. Todos estão soltos: pai, madrasta, médica que acobertou o médico falso e o médico falso. Impressionante.
O desembargador José Muños Pinheiro está com o processo. Uma confusão danada. Como três juízes atuaram, configurou-se o que se chama em judicialês, a língua do Judiciário, de conflito negativo de competência e ele deve decidir qual dos três será o responsável pelo caso. Este juiz, a ser designado pelo desembargador é que decidirá se os réus vão ou não a Tribunal do Júri, o júri popular. Acontece que o desembargador está de férias até setembro. Então, a dor da espera vai ser maior e estamos falando de uma menina morta há quatro anos! Encontrada nas condições que eu já falei.
A assistente do desembargador falou comigo e explicou ainda que esse processo não é prioritário, pois quando ele voltar terá que dar atenção a processos que envolvem pessoas que estão presas.
Eu pesquisei e vi que não são tão raros os casos em que a criança é vitimada pela própria família. A Unicef, Fundo das Nações Unidas Para a Infância e Adolescência, organização da ONU, das Nações Unidas, voltada pra as crianças, acaba de lançar um aplicativo que permite denunciar a violência contra crianças no Brasil. É o aplicativo Proteja Brasil, que dá as principais características de cada tipo de violência, o telefone e o endereço dos lugares de onde se pode buscar ajuda. Até agora, 30 mil pessoas já baixaram a ferramenta em www.protejabrasil.com.br . E entre essas que baixaram, quatro mil fizeram ligações pedindo ajuda.
Só no primeiro semestre deste ano, a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos recebeu quase 50 mil denúncias de agressões, uma média de 271 por dia, quase 11 por hora.
Segundo o Disque 100, serviço da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República, no primeiro semestre deste ano, a central telefônica recebeu quase oito mil denúncias de casos de negligência. Cinco mil e quinhentos eram de violência psicológica, cinco mil de violência física, duas mil de violência sexual e 700 de exploração do trabalho infantil.
O local onde a violência mais ocorre é a casa da vítima e do suspeito, mas há também registro de agressões em lugares onde menos se espera, como escolas e hospitais. Os casos denunciados são encaminhados para os órgãos de proteção às crianças ou adolescentes.
Nós temos uma Delegacia especializada aqui no Rio, que é a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV). Eles me informaram que os crimes de tortura contra menores são registrados em uma média de menos de um caso por mês. Já os crimes de maus tratos são cerca de 10 casos por mês.
Então, infelizmente, o Que fim levou não pode dar um fim ao caso Joanna. Vamos ter que esperar pela Justiça. E a nossa Justiça, realmente tarda. Tomara que não falhe. Qual é a sua opinião? Quem é o culpado pela morte da Joanna? Na internet há um blog, Taxi em Movimento, feito por Jorge Schweiter, uma pessoa que abraçou a causa e que posta sempre notícias. Lá é possível ter muitos detalhes sobre o caso.
Eu também fico com você durante a semana, no nosso facebook que fim levou e na página colunaquefimlevou.blogspot.com, páginas feitas pelo meu braço direito e esquerdo Vinícius Mello, formando em Jornalismo e já um grande repórter.
Para reflexão, deixo com vocês a triste música Angélica de Chico Buarque.
Um beijo e até sexta que vem.
Olá! É essencial que todo o Brasil conheça as origens do que gerou a falsa acusação que levou à morte essa criança. No mundo inteiro essa tese de "alienação parental é combatida, isso nunca foi em beneficio da infância...as desgraças causadas por essa lei não pararam.
ResponderExcluirhttp://www.abusosexualinfantilno.org/index.php/2015-05-07-03-42-15/s-a-p-sindrome-de-alienacion-parental-un-perverso-y-su-estafa