Bom dia Mariana, bom dia Maíra, bom dia Rodolfo, bom dia
para todos os nossos ouvintes. Mas um carinho especial para o Rodolfo, fomos
colegas aí de bancada há muitos anos e é um grande prazer estar aqui com você
ao vivo!
O nosso tema de hoje surgiu de uma conversa minha com o
nosso colega jornalista Edílson Martins, o cara que mais fez reportagens sobre
índio no mundo! Nós estávamos comentando o caso destes índios isolados que
foram contatados no Acre essa semana. Quem diria, hein, índios dos quais os
brancos não tinham conhecimento e que vivem como há milhares de anos na
fronteira do Acre com o Peru. Nos últimos dias, a Fundação Nacional do Índio
(Funai) divulgou imagens do primeiro contato feito pelos isolados com uma comunidade
Ashaninka, na Aldeia Simpatia.
Foi incrível por que acharam com eles vários elementos que
só brancos poderiam ter levado até a tribo, como armas e até uma carteirinha do
Corinthians, mistério a ser explicado. A hipótese é que os isolados encontram esse
material deixado por madeireiros ou traficantes de drogas que andam pela
região.
Mas na conversa sobre esses índios, eu e o Edilson Martins
nos perguntamos: que fim levou a história dos alemães com os Pataxós? Todo
mundo lembra que a seleção alemã comemorou a vitória com uma dança indígena,
dança que os jogadores campeões aprenderam lá em Cabrália, na Bahia, com os
pataxós. Depois foi noticiado que os Pataxós ganharam presente de branco, E não
foi apito! Foi um cheque de 10 mil euros e ainda foram convidados a visitar a
Alemanha. Como é que ficou isso? Bem, vamos contar!
Eu conversei com o cacique Zeca Pataxó ontem. Ele é chefe
como bem diz o nome cacique dos índios da Aldeia Coroa Velha que foi
beneficiada pelas bondades dos germânicos. Ele me contou que realmente está
indo para a Alemanha e que no dia 20 de agosto o cheque de 10 mil euros vai
virar grana de verdade e servir para comprar um carro para atender o posto de
saúde de Coroa Vermelha, que atende mais de 5 mil índios e está precisando
mesmo de um reforço. Para a viagem á
Alemanha só falta regularizar a documentação, tirar passaporte e definir, junto
com o coletivo, quem serão os outros dois índios que vão cruzar os mares de
avião, pois já está definido que com o Zeca Pataxó vai o cacique da aldeia
Piqui.
O cacique está muito feliz com o que recebeu dos jogadores
da Seleção Alemã e, depois, do próprio governo Alemão, que se interessou pelos
problemas do seu povo. Mas ele me confirmou uma história que está muito bem
contada em um livro do Edilson Martins. O livro Nossos Índios, nossos mortos. Os pataxós quase deixaram de existir
como Nação Indígena, quase perderam toda a sua identidade cultural. Por que? Por
que em 1951 eles sofreram um dos maiores, senão o maior massacre que uma etnia
indígena já sofreu no Brasil. Imagina uma aldeia incendiada, mulheres
estupradas, índios feitos de animais, com selas amarradas a seu corpo e brida
na boca tendo que carregar soldados nas costas. Dizimação, assassinato,
covardia. Até velhos e crianças como vítimas. Foi isso que aconteceu.
Além do cacique Zeca Pataxó, eu conversei também com a
Luzia, a gerente de uma agência de turismo que, há 17 anos, coopera com os
índios de uma aldeia vizinha à Coroa Vermelha, que fica no município de
Cabrália. A Luiza leva turistas e principalmente alunos de escolas de todo o
Brasil para a Reserva Junqueira. São quase 800 pessoas visitando a Aldeia por
mês. E 29 famílias de índios vivem dessa atividade. Ela também sabe do massacre
de 1951 e convive com índios que presenciaram tudo. Por exemplo, a dona Nega,
que tem três filhas que também testemunharam todas as barbaridades. Ela me
disse que a cultura pataxó quase morreu. E descreveu o ataque, com polícia de
duas cidades atirando e incendiando a aldeia de madrugada. O motivo alegado era
que os índios tinham feito um roubo, na verdade uma armadilha de uma pessoa que
levou coisas como presente para armar contra os índios. Na verdade, uma conjunção, segundo a Luiza,
de polícia, fazendeiros e políticos para tirar os índios de terras muito
lucrativas.
O nosso colega Edilson Martins, no livro Nossos Índios Nossos mortos, conta uma
coisa mais incrível ainda: que a animosidade contra os pataxós começou por que
eles foram alvo de uma tentativa de politização. Imagina! Um engenheiro e um
tenente, sendo um deles membro do Partido Comunista teriam tido a infeliz ideia
de usar os índios para fazer um levante contra o governo. E a partir daí eles
ficaram mais visados ainda pelo poder estabelecido. Edilson Martins, no livro,
entrevista a antropóloga Maria do Rosário Gonçalves Carvalho, antropóloga pela
Universidade da Bahia que passou um ano vivendo com os pataxós para fazer sua
tese de mestrado sobre esse massacre.
Arrasados pelo ataque, os pataxós ficaram sem nada. Sem
terra, sem casa e quase perderam todos os seus costumes e a sua língua. Mas
conseguiram se recuperar. Hoje eles são mais de 20 mil da mesma etnia, divididos
em várias aldeias que se espalham entre os municípios de Cabrália e Porto
Seguro. Conseguiram a demarcação de uma
área, que é a Reserva Jaqueira. Lá onde a Luzia faz as visitas dos turistas que
podem ver como é a habitação típica dos pataxós, a quijeme - oca na língua deles -, podem comer um peixe na folha de
Patiopa, folha de uma palmeira que dá gosto e cheiro especial aos alimentos que
são cozidos nela, podem dançar com os índios no ritual de comemoração Auê e
aprendem, em uma palestra interativa, muito sobre essa cultura que resistiu.
Uma coisa que eu fiquei sabendo e que seria muito prática aqui entre nós é que
os pataxós se pintam, usam a pintura corporal, para expressar suas condições e
seu sentimento. Por exemplo, os casados se pintam de uma maneira e os solteiros
de outra. Quando o pataxó está alegre, a pintura é uma, quando está de mau
humor ou aborrecido ou triste, a pintura é outra e assim eles dão sinais
importantes para os outros. Como me disse a Luiza, é só o cara sair da quijeme (a oca) com aquela pintura que você
já sabe se ele está ou não pra brincadeira.
Os pataxós da reserva hoje sobrevivem basicamente destas
visitas turísticas, embora elas não sejam caras - uma pessoa paga R$ 35 para
passar um tempo lá e ver e participar de um dia da vida deles. Eles já não
caçam mais nem pescam, por poucas condições da terra e dos rios.
Pior situação é a dos pataxós de Coroa Vermelha , liderados
pelo Zeca. Ele me contou que eles estão há 15 anos lutando pela demarcação de
uma área para eles. Uma área de 54 mil alqueires para atender a mais de 20 mil
índios. Enquanto essa área não é reconhecida pelo Governo brasileiro, os
conflitos são muitos e frequentes com os fazendeiros do local, a maioria
plantadores de mamão, abacaxi e coco.
Zeca também me contou que esteve no mês passado com o
Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e que, infelizmente, a resposta dele
foi que enviou para a Funai o pedido de refazer o estudo antropológico que
determina se é legítimo ou não o pedido dos pataxós. Se realmente,
originalmente, essas terras, no lugar e, que foi rezada a Primeira Missa do
Brasil, quando chegaram aqui os portugueses, é realmente de direito deles.
Eu também procurei a Funai e a assessoria de imprensa me
disse que é normal o Ministério da Justiça pedir essa revisão dos estudos,
pedir algum esclarecimento, tirar alguma dúvida. Só que, falai sério, luqemini serius, 15 anos esperando uma
solução?
Para amenizar, a presença da Seleção Alemã junto a eles foi
realmente muito boa. Além do tal famoso cheque de 10 mil euros, segundo o Zeca,
foi criada uma verdadeira amizade entre os pataxós e os jogadores que estão
abrindo as portas de seu país para uma ajuda ao seu povo. Uma das expectativas do cacique é conseguir, na viagem programada
para outubro, voltar com o patrocínio de uma Escolinha de Futebol para os
meninos pataxós. Tomara que dê certo e eu estou me preparando para levar meus
netos para passear na reserva. Estou doida para comer esse peixe na folha de palmeira!
Fico por aqui. Agradecendo ao Edilson Martins, acreditem que
ele está na Amazônia e ouvindo a gente pela internet! E vai lançar um novo livro, pela editora Top Books,
que mistura ficção e realidade, chamado Dediai
o Selvagem ou o voo das borboletas negras, esse eu não perco! Também
convido a todos a curtir e participar da nossa página no facebook, que é q fim
levou, feita pelo meu fiel escudeiro, o formando em jornalismo Vinícius Mello.
Só escrever o que com q mudo. Facebook que fim levou. Vai lá. O que você sugere
que seja tema da nossa coluna? Com certeza eu vou ficar muito feliz com sua
participação.
Para encerrar, a música de hoje é dos meus tempos de
criança. Uma brincadeira, mas que é boa para a gente lembrar que os índios têm
direitos e não estão a fim de dar mole não. É a nossa velha conhecida Índio quer apito, na versão atual
cantada pelo funkeiro máximo, Mr. Catra. Beijo e fui!
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